TRANSPLANTE RENAL: COMO DOAR/RECEBER UM RIM?

 Transplante renal

Fonte: https://bityli.com/QQAmw

O transplante é um procedimento cirúrgico que consiste na transferência de um órgão saudável ou tecido de uma pessoa, viva ou falecida, para outra, com o objetivo de compensar ou substituir uma função perdida. Sendo assim, no transplante de rim se implanta um rim sadio em um indivíduo portador de insuficiência renal terminal. Esse novo rim passará a desempenhar as funções que os rins doentes não conseguem mais manter.

Existem dois tipos de doadores: os doadores vivos (parentes ou não) e os doadores falecidos. No caso de doadores falecidos os rins são retirados após se estabelecer o diagnóstico de morte encefálica e após a permissão dos familiares. O diagnóstico de morte encefálica segue padrões rigorosos definidos pelo Conselho Federal de Medicina. O transplante a partir de dador vivo está legislado através da Lei n.º 12/93, de 22 de abril, com as alterações introduzidas pela Lei n.º 22/2007, de 29 de junho. Ela pode ser realizada tanto os parentes, quanto os não parentes podem ser doadores, sendo necessária uma autorização judicial. Você pode esclarecer as suas dúvidas junto do seu nefrologista.

Estudo realizado pelo aluno Jackson Lucena do 4 ano de medicina da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas- UNCISAL, junto com a nefrologista e professora da instituição Cláudia Pereira, intitulado de Transplante renal: O impacto do aumento da desproporcionalidade entre o número de doadores efetivos dos potenciais doadores e o número de pacientes ativos em lista de espera no estado de Alagoas. Apresenta que o transplante de órgãos no Brasil configura um desafio quanto a lista de pacientes ativos em espera, aos transplantes realizados de acordo com doadores efetivos e às condições de infraestrutura de cada estado. Logo, torna-se importante conhecer o cenário local para que haja melhoria dos índices estaduais.

Segundo dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, de 2015 a 2019, a média de transplantes renais realizados no Brasil foi de 5857 por ano. Quanto ao número de pacientes ativos em lista de espera no Brasil, a média foi de 21901 por ano. Em Alagoas a média de transplantes renais foi de 12,6 por ano, e a de pacientes ativos na lista de espera foi de 219,8 por ano. Os referidos dados mostram que, nacionalmente, a média do número de transplantes renais atende 26,7% da demanda da lista de espera e, em Alagoas, este alcance é de apenas 5,7% do total de pacientes, estando 21% abaixo da média nacional. A média do número de notificações de potenciais doadores de órgãos, nesses 5 anos, em Alagoas foi de 59,2 por ano e a média do número de doadores efetivos de órgãos foi de 11,8 por ano. Isso mostra que 80,1% dos possíveis doadores são perdidos. Dentre estes, cerca de 28,7% são por recusa familiar e o restante por contraindicação médica, parada cardíaca, morte encefálica não confirmada ou outros. Consequentemente, infere-se que o número de doadores renais efetivos e potenciais doadores renais são menores em relação ao número de doadores de órgãos no geral.


Em sua conclusão os autores expõem que o número de transplantes renais em Alagoas alcança um índice muito baixo, sendo necessário que se discuta sobre políticas públicas de promoção em saúde para veiculação de informações acerca da doação de órgãos e sua importância. Além disso, esse estudo possibilita uma revisão de melhorias no sistema de captação de doadores. Isso pode trazer consequências positivas para o aumento do número de doadores efetivos e do número de transplantes que satisfaça a demanda da lista de espera de Alagoas. Contudo, não só de problemas e dificuldades o transplante renal é regido, o relato abaixo de um paciente que passou pelo processo consolida isso.

RIM NOVO

“A minha falência renal não é o início do meu relato com problemas de saúde. Aos 21 anos fui diagnosticado com Linfoma não Hodgkin na região do abdômen, fiz cirurgia...6 sessões de quimioterapia... Depois venho a radioterapia 42 sessões... na última rodada de exames 5 anos após o linfoma quando receberia a esperada denominação de “curado” pelo protocolo de acompanhamento descobriram que eu estava com anemia... foi iniciado investigação, encaminhado para o nefrologista onde foi diagnosticado com nefropatia por IgA, realizei em seguido o tratamento clínico com imunossupressor... mas o meu caso não respondeu bem ao tratamento... Fui avisado pelo nefrologista que estava me acompanhando que o transplante seria a alternativa mais viável e perguntou a possibilidade de doadores na família... o que me deixou feliz, pois eu tinha 4 irmãos... algum deve ser compatível se todos estiverem bem saúde terei um doador. A minha mãe que estava na consulta também... começou a chorar e disse que eu era adotado e a minha mãe biológica era a irmã dela... no final está tia/mãe foi compatível e minha doadora... Foi então iniciado o protocolo para o transplante e ficamos apenas o tempo passar e a minha função renal decair o que era esperado na minha doença até o nível de ser indicado o transplante... nesse tempo acabei tendo uma infecção que acelerou o processo e cheguei a uma taxa de 6% de função... iniciei hemodiálise em 23 de dezembro de 201 até 8 de fevereiro de 2017 quando os exames todos ok... eu e a minha doadora fomos para o Hospital das clínica em Recife, pois eu estava inscrito na lista de transplante de Pernambuco e no dia 9 de fevereiro de 2017 fui transplantado, fiquei das 11:00h até 18h no centro cirúrgico e depois segui para unidade de terapia intensiva para recuperação não apresentei nenhuma complicação, nem a minha doadora... na outra noite estava caminhando no quarto e recebi alta 15 dias após o procedimento... e minha doadora 5, dias e voltou para casa eu fiquei retornando a cada 2 dias ao hospital e depois a cada 1 semana para acompanhamento.. ao todo fiquei 3 meses em Recife e depois mais 3 aqui em acompanhado com o nefrologista regularmente. Quando recebi a notícia que a terapia imunossupressora não estava funcionando e o transplante era alternativa, a primeira coisa que perguntei foi quais as chances de o transplante funcionar?? O nefrologista respondeu que 50%... então pensei eu vou correr atrás dos outros 50%...

O que ajudou e falo para quem está nessa situação é não deixar de fazer o que gostava tipo... no limite sempre respeitando as orientações médicas... mas no meu caso foi tranquilo, pois a único sintoma que tive foi câimbra muita mesmo... mas fazia surfe... trilha com moto e mergulho nunca deixe não... o psicológico conta muito no processo. Hoje tenho 34 anos e estou bem consciente do que tenho e o que não devo fazer... bebidas... fumar ... já tive COVID fiquei com medo de qualquer coisa complicar, mas foi tranquilo, sintomas leves... e estou fazendo acompanhamento até fui semana passada e creatinina 1.2... Conheci diversas pessoas com várias histórias ao longo desse processo e independente da gravidade no final o conjunto faz a diferença... o apoio da família e amigos, e a forma como vemos a doença ajuda demais durante esse percurso."


Referências

BERTASI, Raphael Adroaldo de Oliveira et al. Perfil dos potenciais doadores de órgãos e fatores relacionados à doação e a não doação de órgãos de uma Organização de Procura de Órgãos. Rev. Col. Bras. Cir., Rio de Janeiro, v. 46, n. 3, e20192180, 2019.

MARINHO, Alexandre; CARDOSO, Simone de Souza; ALMEIDA, Vivian Vicente de. Disparidades nas filas para transplantes de órgãos nos estados brasileiros. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 26, n. 4, p. 786-796, Apr. 2010.

MORAIS, Taise Ribeiro; MORAIS, Maricelma Ribeiro. Doação de órgãos: é preciso educar para avançar. Saúde debate, Rio de Janeiro, v. 36, n. 95, p. 633-639, Dec. 2012.

Leal de Moraes, Edvaldo, Borges de Barros e Silva, Leonardo, de Moraes, Tatiana Cristine, Cordeiro dos Santos da Paixão, Nair, Shinohara Izumi, Nelly Miyuki, Guarino, Aparecida de Jesus, O perfil de potenciais doadores de órgãos e tecidos. Revista Latino-Americana de Enfermagem [Internet]. 2009;17(5):.

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